Blog do Dr. Lucas
Quem precisa fazer exames de diabetes?

O diabetes mellitus é uma doença extremamente comum e, ao mesmo tempo, com potencial muito grande de causar complicações graves à saúde do seu portador. Ao pesquisar sobre esse assunto, talvez você já tenha se deparado com o termo “rastreio do diabetes mellitus” e ficado em dúvida do que se trata.
O que significa o termo “rastreio”?
Na área da saúde, rastrear se refere ao ato de investigar se uma pessoa tem uma doença específica, mesmo na ausência de qualquer sintoma.
Essa pesquisa pode ser realizada de formas diferentes para cada doença específica:
- Através da anamnese (entrevista médica) e exame físico: por exemplo, a hipertensão arterial (pressão alta).
- Através de exames laboratoriais: é o caso do diabetes.
- Através de exames de imagem: como a ultrassonografia utilizada para rastrear a esteatose hepática (gordura do fígado).
Algumas doenças têm características que fazem com que sua investigação tenha uma relação custo-benefício muito vantajosa – por exemplo, aquelas que:
- São muito comuns
- Passem por um período longo sem manifestar qualquer sintoma
- Provoquem complicações significativas se não diagnosticadas a tempo
- Tenham tratamento eficaz.
O rastreio do diabetes mellitus é vantajoso?
Para definirmos se há benefício em realizar exames para rastreamento do diabetes, precisamos avaliar algumas características básicas dessa doença:
- Como já mencionado, é uma patologia muito comum, atingindo atualmente mais de 13 milhões de pessoas no Brasil, o que corresponde a aproximadamente 7% da população do nosso país.
- Apesar de existirem sintomas relacionados à descompensação do diabetes, a história natural dessa doença geralmente tem um longo período em que não há qualquer manifestação clínica – isso significa que seus portadores muitas vezes não sabem que tem a doença e só descobrem numa fase mais tardia, quando as complicações já ocorreram.
- A propósito, as complicações do diabetes têm alta morbimortalidade, ou seja, podem levar à morte ou à piora significativa da qualidade de vida.
- Felizmente, existem tratamentos muito eficazes e seguros que permitem que evitemos as complicações e, com isso, conseguimos proteger a saúde e qualidade de vida do portador da doença.
Observamos, portanto, que o diabetes preenche vários dos critérios para que sua pesquisa seja considerado vantajosa.
No entanto, preciso destacar um ponto muito importante: se realizarmos a investigação do diabetes em pessoas que tenham baixo risco de ter a doença – por exemplo, jovens magros sem história familiar de diabetes -, teremos um consumo muito alto de recursos da saúde (kits de exame, profissionais da saúde, estrutura laboratorial) e, ao mesmo tempo, uma taxa baixíssima de diagnósticos da doença. Ou seja, a relação custo-benefício se torna desvantajosa. Sendo assim, a pergunta que nos resta é…
Quem deve realizar exames para rastreio do diabetes?
A fim de extrairmos a maior eficácia possível do rastreamento de qualquer doença, devemos direcionar os exames diagnósticos à população que está sob maior risco de desenvolvê-la.
No caso do diabetes mellitus, alguns fatores aumentam o risco do desenvolvimento dessa patologia e, portanto, são dados importantes para definir se há (ou não) indicação de realizar os exames diagnósticos. De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, o rastreio do diabetes está recomendado principalmente para os seguintes grupos:
- Qualquer pessoa a partir dos 45 anos de idade, mesmo que não tenha fatores de risco.
- Pessoas abaixo dos 45 anos de idade, mas que tenham sobrepeso ou obesidade – ou seja, com índice de massa corporal (IMC) maior ou igual a 25kg/m² -, associado a pelo menos um dos fatores de risco abaixo:
- Hipertensão arterial (pressão alta)
- HDL-colesterol menor que 35mg/dL ou triglicérides maiores que 250mg/dL
- Sedentarismo
- Doença cardiovascular (como infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral)
- Síndrome dos ovários policísticos
- História prévia de diabetes gestacional
- História familiar (1º grau) de DM tipo 2
- Portadores de HIV
Como é feito o acompanhamento após a realização do rastreio?
O seguimento após realização dos exames de rastreio é dependente dos seus resultados, os quais podem ser 3 distintos:
- Exames normais: nesse caso, o rastreio deve ser repetido em 2 a 3 anos.
- Pré diabetes: recomenda-se a repetição anual do rastreio.
- Diabetes: o paciente deve ser orientado sobre a doença e receber tratamento adequado para prevenção das complicações.
Se você preenche critérios para rastreio do diabetes ou conhece alguém que preenche, não deixe essa investigação de lado – isso tem o potencial de proteger sua saúde e qualidade de vida!

Dr. Lucas Kloeckner de Andrade
Endocrinologista e Metabologista
CRM 33518 | RQE 29661