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Blog do Dr. Lucas

Como é feito o diagnóstico do diabetes?

Diagnóstico do diabetes

Os exames laboratoriais para diagnóstico do diabetes mellitus são muito frequentemente solicitados em consultas médicas, e o motivo pra isso é simples: por ser uma doença muito prevalente, inicialmente assintomática e com alto potencial de complicações graves, o diabetes é considerado uma doença de rastreio, ou seja, sua presença deve ser investigada na população de risco.

No entanto, alguns de vocês já podem ter observado que existe mais de um exame para avaliação da presença de diabetes, e cada um tem orientações específicas de coleta e pontos de corte diferentes, o que interfere na interpretação dos seus resultados. Toda essa variabilidade pode gerar confusão em quem está preocupado em saber se é ou não portador dessa doença.

Nesse post, vou explicar de forma simples e compreensível quais são os exames utilizados para o diagnóstico do diabetes e como é feita sua interpretação.

Os diferentes exames para diagnóstico do diabetes

No consultório, é comum que os pacientes façam perguntas como: “Doutor, qual exame de sangue é o certo para saber se tenho diabetes? Só a glicose já é suficiente? O que é essa glicada? Preciso fazer aquele teste do líquido açucarado?”.

Para podermos responder essas perguntas, precisamos primeiro conhecer quais são os diferentes exames usados para avaliação do diabetes mellitus.

Glicemia de jejum

A palavra glicemia significa “glicose (açúcar) no sangue”.

A dosagem da glicemia deve ser realizada pela manhã, após um período de 8 a 12 horas de jejum, e seu resultado mostra o valor da glicose no momento exato da coleta.

É um exame simples e de baixo custo, o que facilita sua aplicação no rastreio das populações de risco para diabetes. No entanto, destaco aqui que esse exame apresenta grande variabilidade de um dia para o outro, e que alguns fatores podem interferir em seu resultado, como a duração do jejum, a realização prévia de exercício físico ou mesmo quadros de doenças agudas (por exemplo, infecções, doenças cardíacas, entre outras).

Os valores de corte da glicemia de jejum são os seguintes:

  • Normal: até 99mg/dL.
  • Pré diabetes: entre 100-125mg/dL.
  • Diabetes: a partir de 126mg/dL.

(Leia o texto até o final para entender como é feita essa interpretação.)

Hemoglobina glicada

Hemoglobina é a proteína que dá a cor vermelha ao sangue. Sua principal função é transportar o oxigênio vindo dos pulmões para todas as nossas células e órgãos.

A hemoglobina viaja lado a lado com a glicose no sangue e, por terem alguma afinidade, uma parte da hemoglobina acaba se ligando à glicose, originando a hemoglobina glicada (ou glicosilada). Quanto mais glicose houver no sangue, maior o percentual de hemoglobina que será glicada. É por isso que o resultado da hemoglobina glicada sempre vem em percentual.

Como cada molécula de hemoglobina dura 90-120 dias, a dosagem de hemoglobina glicada nos dá uma estimativa da glicemia da pessoa nos últimos 3 meses. Essa glicemia média estimada também é informada no resultado dos exames de hemoglobina glicada, mas fique atento: o valor dosado é da própria hemoglobina glicada, e a glicemia média é apenas estimada a partir dela.

Assim como acontece com a glicemia de jejum, também existem interferentes para a dosagem da hemoglobina glicada, como a presença de anemia, gestação, HIV ou doenças dos rins. O médico endocrinologista deve estar apto a identificar essas situações para não cair em armadilhas de falsos positivos ou negativos desse exame.

Os valores de corte da hemoglobina glicada são os seguintes:

  • Normal: até 5,6%.
  • Pré diabetes: entre 5,7 – 6,4%.
  • Diabetes: a partir de 6,5%.

(Leia o texto até o final para entender como é feita essa interpretação.)

Teste oral de tolerância à glicose (TOTG)

Vimos acima que a glicemia de jejum é um exame bastante útil no diagnóstico do diabetes. Um outro dado bastante interessante nessa investigação é a avaliação da glicemia dosada 120 minutos após a ingestão de 75 gramas de glicose – basicamente, o paciente dosa a glicemia em jejum; em seguida, toma um copo de um líquido bastante açucarado (para algumas pessoas, bastante enjoativo); por fim, dosa a glicemia 2 horas após.

O racional desse teste é que ele tem a capacidade de avaliar se o nosso corpo – especificamente o pâncreas, que é o órgão produtor de insulina – consegue lidar adequadamente com uma sobrecarga de glicose.

Apesar de ser um exame de alta precisão para o diagnóstico do diabetes mellitus, sua logística (tempo necessário para sua realização) e custo dificultam sua aplicação rotineira na avaliação dos pacientes. Assim, seu uso atualmente é mais restrito aos casos de diabetes gestacional ou quando temos resultados duvidosos com os outros testes.

Os valores de corte da glicemia de 2 horas no TOTG são:

  • Normal: até 139mg/dL.
  • Pré diabetes: entre 140-199mg/dL.
  • Diabetes: a partir de 200mg/dL.

Como interpretar os resultados dos exames?

Agora que conhecemos melhor cada um dos testes laboratoriais de avaliação da glicemia, vamos entender como os resultados são interpretados para definir o diagnóstico do diabetes. Para isso, veja a tabela abaixo antes de prosseguir a leitura:

GJHbA1cTOTG 2 horas
NormalAté 99mg/dLAté 5,6%Até 139mg/dL
Pré diabetes100 – 125mg/dL5,7 – 6,4%140 – 199mg/dL
DiabetesA partir de 126mg/dLA partir de 6,5%A partir de 200mg/dL
Resumo dos exames para diagnóstico de diabetes.
GJ = Glicemia de jejum / HbA1c = Hemoglobina glicada / TOTG = Teste oral de tolerância à glicose

Primeiramente, observe que, entre as categorias “Normal” e “Diabetes”, temos outro possível diagnóstico: o “Pré diabetes”, que é um estado de risco aumentado de desenvolver diabetes, e que apresenta critérios diagnósticos próprios conforme os resultados dos exames.

Em segundo lugar, devido à variabilidade que todos esses exames podem ter, e considerando o impacto que o diagnóstico da doença traz para a vida do paciente, é importante que tenhamos o maior grau de certeza possível sobre essa interpretação. Assim, as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes e da American Diabetes Association orientam que a confirmação diagnóstica da doença pode ser feita de 2 formas diferentes, dependendo da presença ou não de sintomas de hiperglicemia (glicemia elevada).

Pacientes com sintomas

Os principais sintomas de hiperglicemia são sede excessiva, aumento do volume e frequência urinária, perda de peso, aumento da fome e visão turva.

Se o paciente tem sintomas de hiperglicemia, qualquer dosagem de glicemia acima de 200mg/dL, realizada em qualquer horário (e não apenas em jejum) confirma o diagnóstico de diabetes.

Pacientes sem sintomas

Se o paciente não tem sintomas de hiperglicemia, precisa ter pelo menos 2 alterações dos exames da tabela acima. Por exemplo, se tiver a glicemia de jejum e a hemoglobina glicada alteradas já na mesma coleta, o diagnóstico está confirmado. Da mesma forma, se tiver duas dosagens alteradas de glicemia de jejum em datas diferentes, também se confirma o diagnóstico.

E se tiver um dos exames alterados e o outro normal? Nesse caso, devemos repetir o exame alterado e, se o resultado continuar fora do normal, podemos confirmar o diagnóstico de diabetes.

Conclusão

O diagnóstico do diabetes é um passo extremamente importante para permitir que o tratamento e cuidado adequados sejam iniciados o mais precocemente possível, permitindo a proteção da saúde e qualidade de vida do seu portador.

Espero que esse post tenha ajudado a esclarecer a utilização de cada um dos exames relacionados ao diagnóstico do diabetes e como é feita sua interpretação.

Até o próximo!

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Dr. Lucas Kloeckner de Andrade

Endocrinologista e Metabologista

CRM 33518 | RQE 29661